A humanidade desperdiça e polui a água como se nada valesse - e já paga o preço por isso
O nosso planeta azul vive um paradoxo dramático: embora dois terços da superfície da Terra sejam cobertos de água, uma em cada três pessoas não dispõe desse líquido em quantidade suficiente para atender às suas necessidades básicas. Se o padrão atual de aumento de consumo for mantido, calcula-se que essa proporção subirá para dois terços da população mundial em 2050. A explicação para o paradoxo da escassez na abundância é a seguinte: a água é um recurso renovável pelo ciclo natural da evaporação-chuva e distribuído com fartura na maior parte da superfície do planeta.
Nos últimos 100 anos, a população do planeta quadriplicou, enquanto a demanda por água se multiplicou por oito. Estima-se que a humanidade use atualmente metade das fontes de água doce do planeta. Em quarenta anos, utilizará perto de 80%. Apenas 1% de toda a água existente no planeta é apropriada para beber ou ser usada na agricultura. O restante corresponde à água salgada dos mares (97%) e ao gelo nos pólos e no alto das montanhas. Administrar essa cota de água doce já deveria despertar preocupação similar à existente em relação à gasolina. Não é o que acontece. Em tese isso faz sentido, pois a água é mais abundante e barata que o petróleo - combustível fóssil cuja escassez nos deixa apreensivos quanto ao futuro e já nos custa caro na hora de encher o tanque do carro -, com a vantagem de ser um recurso renovável.
O petróleo, no entanto, pode ser trocado por outras fontes de energia. Já a água é insubstituível. "Ainda hoje usamos esse bem vital com a mesma falta de cuidado que se tinha no século XIX", diz a especialista em água Petra Sánchez, da Universidade Mackenzie, em São Paulo.
Haverá mais chuvas nas regiões próximas aos pólos e secas mais intensas nas áreas subtropicais. Isso deve piorar um problema contra o qual a humanidade já luta há milênios: a natureza nem sempre nos dá a água no lugar, no momento e na quantidade que precisamos.
Mesmo países com água em abundância, como é o caso do Brasil, não estão livres de dilemas. O acesso à água potável depende de um sistema eficiente de coleta, tratamento e distribuição. Há duas razões principais para isso. A primeira é o crescimento populacional das cidades, que leva ao esgotamento das fontes hídricas próximas dos centros urbanos. A solução é trazer a água, um recurso pesado e difícil de transportar, de lugares cada vez mais distantes. Parte da água que abastece São Paulo é captada a 100 quilômetros de distância. A segunda dificuldade na captação de água limpa a baixo custo para as cidades é a poluição.
Sabendo usar, não vai faltar.
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